- Biografia
Maurício Salgueiro
Vitória, ES, 1930
Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro em 1936.
Na juventude cursou o Conservatório Nacional de Música (dois anos), estudou violão com Patrício Teixeira e piano com Celina Roxo. Ingressou na Escola Nacional de Belas Artes onde se formou em 1954. Cumprindo o prêmio de viagem que lhe foi conferido pelo Salão Nacional de Belas Artes em 1960, permaneceu dois anos na Europa, aperfeiçoando seus estudos de escultura em metal na Brombley Art School de Londres, 1961, e na Academie Du Feu de Paris, 1962. Conheceu mais de 30 países, além de Inglaterra e França. Foi professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Espírito Santo a partir de 1957, da Escola Nacional do Rio de Janeiro a partir de 1958, e do Instituto de Arte e Comunicação da Universidade Federal de Niterói.
Frequentou o Curso de Museologia do Museu Histórico Nacional nos anos 1952 e 1953. Em 1957, a convite do Secretário de Educação e Cultura do Estado do Espírito Santo, mudou-se para Vitória para organizar e estruturar a Escola de Belas Artes da Universidade Estadual do Espírito Santo, que se preparava para a federalização. Lecionou as disciplinas de Modelo Vivo, Desenho Artístico, Composição Decorativa, Anatomia e Fisiologia Artística.
Ainda no Rio de Janeiro, lecionou na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de 1973 a 1984, no Museu de Arte Moderna de 1968 a 1973 e na Universidade Santa Úrsula em 1989. Escultor e fotógrafo, tem se destacado também como designer de troféus para cinema, futebol e carnaval.
Interessou-se pela arte capixaba – Atlas Cultural Brasil, MEC, Conselho Federal de Cultura – levou a ceramista popular Mãe Ana para uma exposição de seus trabalhos em uma galeria do Rio de Janeiro, promoveu com o apoio do Diretório Acadêmico da Escola de Belas Artes a projeção de um filme do capixaba Jece Valadão com um debate no final.
Organizou uma série de projeções dos filmes abstratos de Norman McLaren com a colaboração da embaixada do Canadá. Com o apoio da Prefeitura e do Secretário de Turismo Marien Calixte levou a Escola de Samba Portela, do Rio de Janeiro, para um desfile por toda a cidade de Vitória, terminando com um encontro com os membros das Escolas de Samba do Espírito Santo no Iate Clube a convite do seu Comodoro Roberto Saleto. Com o apoio da Escola de Belas Artes e seu Diretório Acadêmico convidou diversos críticos de arte e professores da EBA – Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro para ministrarem palestras e debates em Vitória.
Maurício Salgueiro, ao lado de Abraham Palatnik, Waldemar Cordeiro e Eduardo Kac, é um dos fundadores da arte tecnológica no Brasil, em suas diferentes épocas e especialidades. Foi um dos primeiros artistas em todo mundo a fazer uso da luz fluorescente como suporte de sua expressão artística, e o primeiro no Brasil a acrescentar o som (sirenes, buzinas e motores) em suas esculturas.
Suas obras lumino-sonoras foram expostas nas bienais de São Paulo e Paris em 1965, provocando impacto e merecendo elogios em textos de Pierre Restany e George Orley. De uma fase inicial na qual predominavam o ferro e a solda elétrica, Salgueiro evoluiu para esculturas, mimetizando postes, com sua fiação, interruptores, isoladores cerâmicos, neons e ruídos, a seguir para esculturas-máquinas, uivantes ou pulsantes, expelindo olhos avermelhados a lembrar sangue, ou esperma, provocando borbulhas e expelindo espumas e, finalmente, estruturas mecânicas, que se movem a maneira de autômatos.
Em outro polo de sua invenção plástica associa a fotografia e determinados materiais – tecidos, metais, etc. – que, situados lado a lado num mesmo painel, criam uma situação ambígua, envolvendo os sentidos da visão e do tato.
Em texto de 1976, Frederico Morais fala a propósito de Maurício Salgueiro em “Uma poética da máquina", sustentando que ele “revela em sua obra uma exata compreensão de que o alargamento de nossa percepção dependerá do tipo de relacionamento que estabelecemos com as máquinas que envolvem nossa existência cotidiana. Se excluirmos a produção inicial, característica dos momentos de formação, podemos dizer sem erro que o binômio cidade/máquina foi sempre a sua preocupação como artista aproximando-se, nesse particular,
dos futuristas italianos”.
Participou das Bienais de Paris, 1961 (“Merecia estar na premiação”... Pierre Restany, Revista Domus, nº 434, Milão, Itália, 1966); São Paulo 1965 (“Entre os mais jovens, um grupo de artistas de São Paulo se impõe pela clareza de seus objetivos e originalidade de suas pesquisas semânticas,
Maurício Salgueiro por Linda Daily, Gesso Patinado, 1959
centradas sobre um espaço de síntese ativa entre o Ready Made e a Pop Art, uma espécie de ‘Pop Concretismo’: Waldemar Cordeiro, Luiz Sacilotto e Maurício Salgueiro desenvolvem suas experiências pluridimensionais. A partir desta renovação de linguagem se abre largamente uma perspectiva sobre o futuro da arte brasileira.” Pierre Restany, Revista Domus, nº 432 – novembro de 1965 – Milão, Itália), 1967, 1971 e 1975; e Bahia, 1966 e 1968, do Salão Nacional de Belas Artes e Salão Nacional de Arte Moderna. Rio, nove vezes entre 1951 e 1966; do Salão de Arte Moderna do Distrito Federal, 1964 a 1966; Salão Municipal de Belas Artes, Belo Horizonte, 1964; Salão Esso de Artistas Jovens, Rio e Washington, 1965; Salon Comparaisons, Paris, 1965; do Resumo Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1965; Salão da Eletrobrás “Luz e Movimento”, Rio de Janeiro, 1971; do Panorama de Arte Atual Brasileira, São Paulo, 1972, 1975 e 1976, recebendo inúmeros prêmios.
Figurou ainda em diversas coletivas no Brasil e no exterior, cabendo mencionar, entre outras, O rosto e a obra, Rio de Janeiro, 1964; Arte Brasileira Contemporânea, Lisboa e Praga, 1965; Escultura Moderna do Brasil, México, 1967; Imagem do Brasil, Bruxelas, 1974; Universo do Futebol, Rio, 1982; Um século de escultura no Brasil, São Paulo, 1982; Madeira, matéria de arte, Rio, 1984; Bienal do século XX, São Paulo, 1994; Maquinas de Arte, São Paulo, 1997: Trajetória da Luz, São Paulo, 2001: FiatLux – A Luz na arte, Rio, 2003.
Esteve presente em diversas mostras e eventos de arte pública, tais como Arte no Aterro, Rio de Janeiro, 1965: Domingos da Criação, Rio de Janeiro, 1971; Dez Escultores de Vanguarda, Praça Roosevelt, São Paulo, 1970; Cinquenta Anos de Escultura Brasileira no Espaço Urbano, Praça N.S. da Paz, Rio de Janeiro, 1982.
Realizou cerca de uma dezena de exposições individuais, em Vitória, 1957, 1965 e 1975; Rio de Janeiro, 1963; Belo Horizonte, 1964; Lima, Peru, 1965; Assunção, Paraguai, 1969; e três amplas retrospectivas: no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, em Niterói, 1976; Museu de Arte da Universidade Federal do Espirito Santo, Vitoria, 1994; e Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, RJ 2014 – 40 Anos de Urbis – (ganhando o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, 2013). Entre 1976 e 2004 participou 17 vezes, como julgador do Grupo Especial das Escolas de Samba do Rio. Foi coordenador do Curso Bloch de Fotografia nos anos de 1975 e 1976.
Mauricio Salgueiro com a gravadora Wilma Martins na margem do Oceano Glacial Ártico.
Mauricio Salgueiro com Joãozinho Trinta no Carnaval Carioca.