- Textos
Arte no Aterro
Frederico Morais, Diário de Notícias, 19/julho/1968
Os seis artistas que expõem isoladamente suas obras ou se manifestam neste fim de semana – 20 e 21 de julho - na programação UM MÊS DE ARTE PÚBLICA, tem de comum, em primeiro lugar, a ousadia de suas proposições, que rompem com varas convenções e preconceitos relativamente à escultura e à pintura. Em seguida, a pesquisa em torno do suporte. O apelo à participação lúdica do espectador, de um lado, e a reelaboração da paisagem física da cidade são outros fatores que aproximam estes artistas, todos de vanguarda. Mas em cada um há uma proposta individual que reflete, naturalmente, sua maneira de ver o mundo, as coisas, o homem e a arte.
Maurício Salgueiro tem uma formação expressionista. Antes usava formas pontiagudas, efeitos de matéria com a ajuda da solda, planos contrapostos e conflitantes. A partir de certo momento, porém, acrescentou novos elementos à sua
escultura, os quais, à medida que negavam a primazia do plástico-visual, valorizavam suas proposições. Refiro-me aos efeitos de luz e de som (incluindo-se, aqui, a própria voz do espectador), sempre relacionados ao meio urbano: sinais luminosos de trânsito, sirenas, buzinas de automóveis. E pode-se inferir de seus trabalhos uma posição crítica face ao tumulto sonoro das grandes cidades. Como também certa nostalgia de uma cidade mais simples, humana, intimista. É o que se pode perceber, talvez, nos seus ”postes” mais recentes. Não são postes de ferro, como os do asfalto, nem os de concreto do Aterro, mas postes de uma “suburbs”, a favela, por exemplo, a cidade do interior. Postes suburbanos, saudosos de uma vida mais prosaica, comunitária. Nestes postes tudo à vista, os fios, os isoladores, a madeira irregular, as partes são pregadas e pintadas toscamente. Maurício Salgueiro age como se nada quisesse acrescentar de seu poste para trazê-lo intacto à contemplação do público.