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A Matéria da Arte e a Arte da Matéria
Paulo Emilio
O estudo da Ciência dos Materiais que fundamenta a Engenharia de Materiais e permite a realização das atividades práticas de fabricação, conformação, funcionalização, preparação estética e manutenção de todos os utensílios, dispositivos e equipamentos usados pela humanidade, baseia-se essencialmente na compreensão da simetria da Natureza. Na realidade, na “quebra” desta simetria, nas demonstrações naturais ou induzidas de perda de continuidade de forma, de estrutura, de comportamento. Entender os materiais requer aprofundar-se na observação e análise do seu conteúdo interno, denominado “espécie microestrutural”, para revelar fronteiras e interfaces da sua constituição interior.
O uso de técnicas metalográficas em que um material é previamente preparado, através de corte, polimento e ataque químico ou eletroquímico para depois ser analisado em microscópios de diferentes tipos, gera as imagens aqui apresentadas. Elas nos dão informações sobre as espécies microestruturais que constituem o material. Isso inclui grãos cristalinos, cujas fronteiras definem os “contornos de grãos”, a presença de partículas representativas de compostos, tais como carbonetos, óxidos, que apresentam interfaces características nos seus limites dimensionais. São estes microconstituintes que determinam as propriedades dos materiais, os quais podem se apresentar como bons condutores de eletricidade e ainda resistentes à solicitação
mecânica e ao ataque corrosivo, por exemplo. Essas propriedades definem o desempenho do material na Engenharia, adequando-o ao uso prático pela sociedade.
A observação e análise das espécies microestruturais que constituem um material utilizado numa escultura artística como a Taça das Bolinhas, a matéria da arte, serve para caracterizar as suas propriedades físicas e químicas, mas também para revelar uma arte intrínseca da matéria. Neste caso, formas geométricas diferenciadas em gradação de cores são mostradas, realçando compostos e interfaces em diferentes escalas de ampliação, desde a macroscópica, com observação visual, passando por análises microscópica e nanoscópica até atingir a escala atômica, que apresenta arranjos cristalinos organizados. Estes últimos são característicos dos materiais metálicos convencionais, mas muitos outros materiais metálicos, cerâmicos, poliméricos ou compósitos podem também não apresentar seus átomos com arranjo cristalino organizado e são considerados amorfos, como o vidro de uso comum.
A matéria da arte pode, ela própria, constituir peça artística quando sua análise metalográfica científica agrega a emoção do observador na forma em que é representada.
Com isso, podemos questionar: até onde se estendem as fronteiras que definem interfaces entre ciência e arte ?