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A Coruja dos Ovos de Ouro – Regina Celia Colônia
Caderno B – Jornal do Brasil – 23 agosto 1970
Uma coruja enxerga principalmente no escuro – e presta muita atenção. O espectador de cinema também. Aproveitando o símbolo, o INC encomendou uma a Mauricio Salgueiro, cujas esculturas têm muito de cinema: som, luz e movimento. Amanhã à noite, no Teatro Municipal, serão entregues as 14 Corujas de Ouro aos melhores do cinema nacional. São o Oscar Brasileiro.
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A Escultura chamava-se Acabamento 2B. Estava numa praça de São Paulo. Estabelecia um diálogo imediato com o povo. De repente 40 mulheres se reuniram e a depredaram. Motivo: ela fazia muito barulho. O autor: Mauricio Salgueiro.
Andaluz de Vitória, Espírito Santo, Mauricio é o escultor dos personagens agressivos, das lâminas deformantes e dos diálogos de ruídos entre os quais se move o homem da cidade. Dele também é a Coruja de Ouro, que será entregue amanhã. Desde a Grécia, aliás, ela é o símbolo da Filosofia.
(...) Nos trabalhos de Mauricio Salgueiro, os elementos circundantes, estruturas de ferro, solda elétrica, os
madeirames da cidade estão constantemente presentes.
Como no Flagelado, escultura feita com madeira de uma favela que desabou e a enxurrada trouxe até a porta do seu atelier.(...)
– “Todas as artes procuram fixar um estágio da civilização, marcar uma data dentro de um grupo. Escultura e Cinema estão, nisso, muito próximos.”
– “Para fazer o prêmio INC, abri mão da coruja-massa. Parti da ideia da coruja antimatéria. Fiz a escultura em espaço negativo e, sobre a matéria que justifica o espaço negativo, uma pesquisa de superfície bastante rica e chegada à problemática da coruja – antes de tudo, uma ave. Usei, como espaço positivo, apenas os dois olhos. Tratados em círculos concêntricos, eles têm uma oscilação de objetiva. Pois o orêmnio é de cinema.”
– “E introduzi na matéria da coruja um elemento marcadamente contemporâneo, vigoroso e condizente com a nossa estrutura: a solda elétrica”.