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Maurício Salgueiro: Justa Homenagem
A Gazeta - Vitória, ES – 22/07/1994– Samira Margotto
A exposição Sólido/Insólito, do escultor Maurício Salgueiro, realizada simultaneamente em cinco espaços de arte da cidade, até hoje, alterou o pacato cenário artístico capixaba. É a primeira vez no Estado que um único artista tem suas obras e tantos locais ao mesmo tempo. Trata-se de uma justa homenagem ao maior escultor capixaba. Apesar de ser referenciado por grandes nomes da crítica de arte nacional e internacional, ter participado de três Bienais Internacionais de São Paulo (1965, 1967 e 1972), da IV Bienal de Paris e recentemente da Bienal Brasil Século XX, seu nome era pouco conhecido pelos setores mais jovens.

A concepção e realização do projeto dependeu, sobretudo, do empenho dos organizadores do evento, em convencer a iniciativa privada e pública da importância da mostra. Tal esforço parece ter sido compensado, o número de visitantes ultrapassou as expectativas, o nome de Maurício parecia estar em todos os lugares, nos jornais, na televisão, outdoors e na divulgação informal de boca a boca. O espaço do Shopping Vitória, em especial, recebeu um tipo de público pouco identificável com os habituais frequentadores de galerias de arte. Entretanto, a participação foi intensa, que merece ser destacada. Parece dissonante pensar que crianças, adolescentes e toda essa espécie peculiar da fauna urbana que circula nos shoppings apresentassem uma receptividade ao trabalho escultórico formalmente avançado de Maurício Salgueiro. Certamente, não foram estes aspectos que pesaram na apreciação. A resposta não encontra ressonância no fato de Maurício subverter a relação da escultura tradicional, que procurava no uso de linhas e massas a ilusão do movimento.

Ora, o que propiciou a identificação foi a maneira de Maurício expor sua temática. A sensibilidade apurada do artista faz com que ele extraia do ambiente seus aspectos mais sórdidos e belos, demonstrando o quanto é tênue a fronteira entre o desprezível e o louvável. Desmascara o que o senso
comum entende por abominável e repugnante, não faz propriamente críticas à sociedade, apenas expõe suas características. Entende, assim, o espaço urbano brasileiro numa perspectiva similar a utilizada por Baudelaire no século XIX, que captava, no que rondava, os elementos para a construção do seu discurso poético.

Maurício recoloca o espectador no centro da obra, talvez como os futuristas italianos pretenderam. O espectador é sujeito ativo em seu trabalho, na medida que cabe a este iniciar o processo: tocando o botando, a máquina é ligada, se movimenta, geme, expele líquidos - mistura a sensação de repulsa e deslumbre. Atua como uma espécie de confessionário urbano de forma explícita, na obra Fofoca - em que, sem o espectador saber, tudo o que é dito diante dela é transmitido para uma outra sala. Em outras obras implicitamente como em Vazamento XI - a poça, na qual a solidez de um grande cubo de metal guarda a surpresa de uma forma fálica em resina vermelha, que emerge pulsante envolta em óleo que se assemelha a sangue. A sugestividade da forma e do movimento
desperta comentários e reações insólitas. Adolescentes costumam se entreolhar e
rir, uma senhora diz estar com nojo, enquanto conserva os olhos fixos na obra, crianças ficam observando atentas…

As Luminosas, Uivantes, Tátil-Olfativas, Pulsantes, obras de Maurício Salgueiro na concepção de Frederico Morais, encontraram uma receptividade intensa, claramente expressa na forma que um espectador escolheu para definir Mauricio. Ele escreveu no livro de assinaturas: “THE BEST!”

Samira Margotto


(A autora é formada em Artes Plásticas com Graduação em História das Artes)
© Mauricio Salgueiro 2022
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