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Exposição Individual - Maurício Salgueiro
Carlos Cavalcanti. Museu de Arte e História da Universidade Federal do Espírito Santo. Catálogo - 13 setembro 1970
Os primeiros trabalhos de Mauricio Salgueiro que conheci traziam a marca de origem da Escola Nacional de Belas Artes. Revelavam, no entanto, certas feições técnicas e expressivas prometedoras, pela sinceridade com que recebera sugestões da poderosa força plástica do arcaísmo grego de Boudelle e da marcante vitalidade do sensualismo de Maillol. Isto vai como elogio, porque as influências desses dois grandes criadores franceses estão patentes na formação, não apenas de bons escultores estrangeiros contemporâneos, mas também em alguns dos melhores modernos brasileiros...
... Boudelismo e maiolismo eram bons sinais. Tanto que, sem demorar muito, Mauricio Salgueiro abandona os cânones tradicionais da escultura para exploração de novos materiais e valores expressivos. Situa-se, com personalidade na linha de veemente expressionismo de mestres do ferro novo ou velho como Chadwick Armitage Lardera e Gonzales.
Sem abandonar o ferro, está agora em plenas pesquisas e realizações de espaciodinamismo e luminodinamismo, misturando escultura pintura movimento, som, luz, numa
síntese de que resulta uma criação não plástica, mas cinética–áudio–visual. Claro que está fazendo isso no campo ainda limitado, precário e caro dos nossos recursos e tecnologia, mas num objetivo de amplos e totais efeitos de comunicação, que me parece pioneiro entre nós...
...Mas no eletrônico Mauricio Salgueiro há um traço que me parece significativo – suas esculturas, vamos chamá-las por enquanto assim, suas esculturas atuais visam a integrar-se não no ambiente arquitetônico, interior ou exterior, mas no cenário urbanístico, em pleno contato com a multidão para diverti-la ou doutrina-la, individual ou coletivamente, conforme as circunstâncias ou as intenções deste jovem mestre.
Pois é esta vivência, participação, comunicação de massa, séria ou aparentemente jocosa, através do movimento, do som, da luz e da cor, que conta nestes novos tempos de circuito elétrico, instantâneo e global que começamos a viver e vivemos, de modo mais direto e intenso, no seu atelier no Cosme Velho, numa velha casa “art-nouveau”.