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Mauricio Salgueiro - SINAIS
WALMIR AYALA. Catálogo - Paço das Artes, São Paulo – 1971
Mauricio Salgueiro monta suas esculturas com consciência feroz do instante triturador da vida moderna. Transforma em objetos de reflexão artística, todos os danos do progresso, todos os sons e atitudes que constituem a fobia mais ou menos consciente da massa em fuga para parte alguma. Há contudo a nobreza, nestas análises, que a matéria bruta não incluía. A nobreza e a independência, como se estas agressivas lâminas deformantes, movidas ao som de um rugido de atropelamento e degolação, se transformassem nos animais pré-históricos que os milênios encerraram para descanso de nossa vida diuturna. E de repente nos vem o terror, a certeza de que estamos ameaçados novamente, e nus nesta selva cheia de sombras e pesadelos. Só que nesta nova pré-história nos compete premer o botão que move o monstro, ainda que fatal seja seu aparecimento na vereda do
nosso dia. Premer o botão e ver o indesejado, eis o dilema que nos propõe Maurício Salgueiro com sua escultura de participação, com sua paixão de animizar as formas esmagadoras da paisagem urbana. Este sinal de comando, proporcionado pelo artista, é que ainda nos salva.
SINAIS
As interferências da selva urbana, seu rugido, urro, estridência, dissonância, engrenagem triturante, impacto, esmagamento e milagrosa resistência: os esquemas rudes de uma fauna férrea. Esculturas com o peso específico da categoria + o movimento, a voz, a vibração (ruído nos trilhos subterrâneos de uma mina de ferro). Faróis que cortam friamente a área indefesa do homem. Fios que comunicam telefonicamente a voz pedida do espectador de arte, na simulação dramática de um sistema de comunicação no espaço limitado (e violentado) de uma exposição.
Rio de Janeiro, agosto de 1971