- Textos
Bate-papo com alguns artistas
Mauricio Salgueiro, os metais e as luzes – Revista Artes, nº 30, São Paulo, 1971
Há alguns metros de Márcia, um rapaz moreno mexe com diversos fios e Metais. Está absorto em seu trabalho. É Mauricio Salgueiro. Aproximo dele e pergunto: “O que é que você está fazendo aí, hein, Maurício?" Ele olha-me surpreso. Pensei que estivesse bravo. Mas veio um sorriso. Ele deixa seus instrumentos e vem conversar comigo. Então explica o seu trabalho: "No esquema de luz, som e movimento, que é um pouco a minha linha de trabalho, eu pretendo dar uma certa valorização ao material, na sua vivência própria. É o aço, que tem um som especial e que, dentro da minha escultura, tem o direito de gritar aquele som, com seu timbre próprio. E no movimento que essas lâminas fazem, estão presentes os desenhos, que jogam com o espectador. A pessoa fica entre as duas lâminas e se mistura com o desenho. Sua figura é distorcida, deformada.
Essa deformação é acompanhada pelo som. Este trabalho aqui, foi o que me levou àquele. E o terceiro é a curtição: a decomposição do raio luminoso.
Maurício fala também da definição dada por Harry Laus ao seu trabalho: da sucata, passando pelos metais, à decomposição da luz. Quer dizer: toda a linha pega movimento, o som, a luz, reflexão e decomposição do raio luminoso. Fala também que seu trabalho tem a função de desmistificar. As duas lâminas contrapõem desenhos que representam as estátuas de David e da Vênus de Milo.
Estamos acostumados com o estático dessas figuras. Portanto procuro desmistificá-la, colocando-as em movimento. Em relação à Bienal, Maurício afirma que tem o maior respeito.
Revista Artes